terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Parada do Manuel


“Era enorme, mesmo para essa terra de feracidades excepcionais.”
[...] 
“- Era belo, áspero, intratável.”


*** 

“Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem-comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
[protocolo de manifestações de apreço ao sr. diretor.”

*** 

“Tudo lá parecia impregnado de eternidade.”

***

“Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei”


***

“...comerei terra e direi coisas
[de uma ternura tão simples.”

***

“Mas eu salvei do meu naufrágio
Os elementos mais cotidianos.
O meu quarto resume o passado em todas as casas que habitei.”
[...] 
“Sei que amanhã quando acordar
Ouvirei o martelo do ferreiro
Bater corajoso o seu cântico de certezas.”

***

“A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?”

***

“Parada do Lucas
- O trem não parou.

Ah, se o trem parasse
Minha alma incendida
Pediria à Noite
Dois seios intactos.”

***

“Quanta luz mediterrânea”

***

“Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com o trabalho.

As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
Os anjos não compreendem os homens.

Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.

- Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.”

***

“Eurico Alves, poeta baiano,
Salpicado de orvalho, leite cru e tenro cocô de cabrito,
 [...]
Como o pão que o diabo amassou.
Bebo leite de lata.
Falo com A., que é ladrão.
Aperto a mão de B, que é assassino.
[...]
Não sou mais digno de respirar o ar puro dos currais da roça.”

***

“Não quero óculos nem tosse
Nem obrigação de voto”
[...] 
“Quero a solidão dos píncaros
A água da fonte escondida”
[...] 
“Quero dar a volta ao mundo
Só num navio de vela”
[...] 
“Mas basta de lero-lero
Vida noves fora zero.”

***

“Ser como o rio que deflui
[...]
Se há estrelas nos céus, refleti-las.
E se os céus se pejam de nuvens,
Como o rio as nuvens são água,
Refleti-las também sem mágoa
Nas profundidades tranquilas.”

***

“Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma,
A alma é que estraga o amor.”
[...]
“As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.”

***

“Que o corpo, esse vai com o boi morto,”
[...] 
“Boi espantosamente, boi”


***

“Muito cosmograficamente
Satélite.”
[...] 
“Demissionária de atribuições românticas.
Sem show para as disponibilidades sentimentais!
[...]
Fatigado de mais-valia,
Gosto de ti assim:
Coisa em si,
- Satélite.”

***


“Todas as manhãs o aeroporto em frente me dá lições de partir”
[...]
“-Esse sol da demência”

***

“O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.”

***

“- A dor de ser um homem...
Este anseio infinito e vão
De possuir o que me possui.”

***

(Manuel Bandeira - 50 poemas escolhidos pelo autor)

domingo, 25 de fevereiro de 2018

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Tecelã

"My lady takes a nasty tumble
Down the crumbled steps of the merchants guild."

***

Richard Dawson - Weaver
Álbum: Peasant (2017)

***

"ahahahahaaaaaaaaaaaaaaah
ahahahahaaaahaaahhhhh
ahahahahaaaaaaaaaaaaaaah
ahahahahahááááhááááááh
áááháháháhááááháááááááááááá
áháháháháááááááááháhááááhááá
áááháháháhááááháááááááááááá
áháháháháááááúúhúhúúúúúúúhh
úhúhúhúhúúúúúúhhh
úhúhúhúhúúúúúúhúhúhhh
úhúhúhúhúúúúúúhhh
úhúhúhúhúúúúúúhúhúhhhhúhhhhhhhúhhhhh.."

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Saturday Evening

...e um Post.

The war is over.

***

Dois soldados perdidos em um batalhão de mil.
Not so bad.
 (Só os mesmos dois soldados perdidos de sempre.)

E como disse o grande Al, no post anterior,
com o tempo tudo acaba se tornando coeso.

***

Ao Coronel Rockwell, que também acha feio o que não é espelho.
O avesso do avesso do avesso do avesso...

***

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

animAL

Al

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1)










"He can't be any other way."

***

2)




"...you know, he wants to destroy it."

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3)






"Something, anything!
I don't wanna climb up the fucking stairs to find out that you're not there!"

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4)


"Well, don't worry about that, you know...
All that stuff is supposed to coheres eventually, no?"

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5)





"Don't leave."

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Confiamos, Al, é claro que confiamos.

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"Ramoooooooooonaaaaa!!!"

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Rum


“...um tipo de compreensão tênue de que neste ramo toda conversa é fiada e de que um homem certo do que quer tem pouco tempo para atingir seu objetivo e não pode se dar ao luxo de ficar se explicando.”

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“'Feliz', murmurei, tentando definir aquela palavra. Mas essa é uma daquelas palavras que nunca consegui entender direito, assim como Amor. Muitas pessoas que trabalham com palavras não confiam muito nelas, e não sou exceção – especialmente quando se trata de palavras grandiosas, como Feliz, Amor, Honesto e Forte. São palavras fugidias, relativas demais quando comparadas a palavrinhas afiadas e maldosas como Marginal, Vagabundo e Charlatão. Com essas me sentia em casa, porque são mirradas e fáceis de definir, mas as grandiosas são difíceis. Você precisa ser um sacerdote ou um tolo para usá-las com alguma segurança.

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“Era isso que eu repetia a mim mesmo naquelas tardes quentes de San Juan, quando estava com trinta anos, e minha camisa molhada de suor grudava nas costas. Me sentia no topo de uma espécie de auge solitário, com meus tempos de irresponsável encerrados e nada além de decadência à minha espera. Era uma época lúgubre. Minha visão fatalista de Yeamon não era exatamente uma convicção, mas uma necessidade. Se concedesse a ele um mínimo de otimismo, precisaria admitir diversas coisas infelizes a meu respeito.”

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“Mas sabia estar chegando a um ponto em que precisaria tomar uma decisão a respeito de Porto Rico. Já estava ali havia três meses, mas pareciam três semanas. Até então, nada surgira de concreto, nenhum dos prós e contras genuínos que apareciam em outros lugares. Por todo o tempo em que estivera em San Juan, amaldiçoara a cidade sem realmente desgostar dela. Senti que mais cedo ou mais tarde enxergaria aquela terceira dimensão, aquela profundidade que torna uma cidade verdadeira, e que você nunca enxerga até morar nela por algum tempo. Mas quanto mais tempo eu ficava por lá, mais suspeitava de que pela primeira vez na vida, estava em um lugar onde tal dimensão não existia, ou ao menos era nebulosa demais para fazer qualquer diferença.”

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“Ali o sol não me incomodava. Parecia combinar com as quadras de saibro, o gim e a bolinha branca zunindo de um lado para o outro. Lembrei de outras quadras de tênis e de um tempo quase esquecido, cheio de sol, gim e pessoas que nunca mais veria porque não conseguíamos mais conversar sem parecer entediantes ou frustrados. Fiquei ali sentado na tribuna, escutando o ruído da bolinha felpuda e sabendo que aquilo nunca mais soaria como nos tempos em que eu sabia quem estava jogando e me importava com isso.”

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“Era uma sensação estranha, e não falei muito pelo resto da noite. Fiquei apenas ali, sentado e bebendo, tentando decidir se estava ficando velho e sábio ou apenas velho e nada mais.”

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“O que mais me perturbava era o fato de na verdade eu não querer ir à América do Sul. Não queria ir a lugar nenhum. Ainda assim, quando Yeamon falava em ir a outro lugar, eu me empolgava. Conseguia me enxergar desembarcando na Martinica e explorando a cidade em busca de um hotel barato. Conseguia me ver em Caracas, em Bogotá e no Rio de Janeiro, fazendo de tudo para me virar. Eram mundos que eu não conhecia, mas sabia ser capaz de lidar com eles, porque afinal de contas eu era um campeão.
Mas tudo isso não passava de masturbação mental. No fundo, sabia que não desejava nada mais do que uma cama limpa, um quarto iluminado e algo de concreto que eu pudesse chamar de meu, até que ficasse cansado. No fundo da minha mente, pairava uma suspeita terrível de que eu finalmente superara uma fase. O pior é que não me sentia nem um pouco mal com isso, apenas cansado e um tanto confortavelmente distante.”

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“Não estou fazendo planos”, respondi. “Vou chegar lá e ver o que acontece... uma boa e saudável bebedeira para relaxar um pouco.”

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“Santa Maria mãe de Deus, pensei. Estávamos no Texas?”

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“Alguma espécie de repuxo demoníaco que me arrastava em outra direção – rumo à anarquia, à pobreza e à loucura.”

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“Era perfeitamente capaz de fazer algo anormal e irregular, mas isso precisaria ser planejado com alguma antecedência.”

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“Sobrevivência por coordenação, por assim dizer. A corrida não foi feita para os ligeiros, nem a batalha para os fortes, mas para quem consegue antevê-las e escapar a tempo, como um sapo de brejo fugindo de uma cacetada.”

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“As delicadas ilusões que nos ajudam a levar a vida adiante têm um limite de abuso...”

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“Passei as horas seguintes lendo The Nigger of the Narcissus e fazendo anotações para minha matéria sobre a Ascensão e Queda do San Juan Daily News. Estava me sentindo muito capaz, mas ler o prólogo de Conrad me deixou tão assustado que abandonei qualquer esperança de um dia ser alguma coisa além de um fracasso...

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(Hunter S. Thompson - Rum: Diário de um jornalista bêbado)

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