sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

"Shadows Collide with People"

O Pedro Pan era um garoto muito, mas muito distraído.
Um dia, saiu pra dar um rolêzinho e perdeu a própria sombra.
Por sorte, havia essa amiga, a Wendy, que teve a boa
ideia de costurar a sombra no pé dele.
Pelo que se tem notícia, desde então, não houve mais nenhum
comunicado de sombra desaparecida nos noticiários locais.

Todos viveram bem.

***

Volta e meia, a gente também incorre no erro de esquecer, mas o fato é que até mesmo
AS SOMBRAS SÃO.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Eleotero (Caderno TRansiTório - 01)

Eleotero
 
O Eleotero foi um dos doze deuses olímpicos. Bem, era pra ter sido.

Ele era o deus da limpeza dos peixes e tinha o poder mítico do avental. Quando o prato do dia era peixe – o que acontecia com certa frequência – o Eleotero ia pra cantina do Olimpo e ficava lá o dia todo, encarregado de abrir e limpar os bichinhos. Mas, embora fosse excelente ao desempenhar essa função, mantendo seu avental sempre impecável, o Eleotero não gostava muito de limpar peixe não. Ele preferia gastar seu tempo nos inferninhos 24 horas que existiam no sopé do monte.

A verdade é que ele se sentia muito mal em relação ao seu “dom”. Tinha vergonha. Pra ser bem preciso, o Eleotero se sentia um deusinho de merda. Queria ser bacana, tipo o Hefesto, deus do fogo e da metalurgia ou tipo o Poseidon, deus dos mares e das tempestades. Enfim, uma coisa legal, que chamasse a atenção das mulheres.

Então, com o tempo, desmotivado com seus poderes e com as condições de trabalho, o Eleotero começou a passar cada vez mais tempo nos inferninhos e se esqueceu de suas obrigações. Os deuses ficaram irritadinhos porque estavam comendo apenas vegetais no almoço e na janta, sete dias por semana.

- Cadê o Eleotero? – bradou o Zeus, um dia, muito bravo, batendo com o garfo na mesa e cuspindo um pedaço de nabo mal mastigado pelo canto da boca.

- Está nos inferninhos com o Hades. Agora ele só vive por lá, querido. – disse a Hera, do auto de sua dignidade conjugal, enquanto limpava com um guardanapo a barba do marido e também irmão – pois é, entre eles, os deuses são bem liberais.         

Então o Zeus ficou puto e reuniu, à surdina, os outros deuses pra eles declararem a vacância da cadeira do Eleotero no panteão. Na reunião, eles decretaram abandono de emprego com base nas leis do MMTPPG – Ministério Mítico do Trabalho e dos Poderes do Panteão Grego.

Na manhã seguinte, o Eleotero voltou pro Olimpo, levemente alterado, e foi recebido, ainda no portão, pelo Apolo e pelo Zeus, que disseram que ele não fazia mais parte daquele “seleto clã”.

O Eleotero disse assim:

- Vocês não podem fazer isso comigo, seus canalhas! Eu tenho o poder do avental, estão me ouvindo?! Eu não sou qualquer um! Eu sou um exímio limpador de peixes!

Mas o Zeus e o Apolo estavam irredutíveis.

- Saia daqui, seu ébrio habitual! – disse o Zeus, atirando com fúria um cesto de nabos recém-colhidos na direção do Eleotero.

Mas o Eleotero conseguiu escapar da pancada cambaleando bebadamente e isso deixou o Zeus ainda mais puto. Ele fez um sinal pro seu queridinho, o Apolo, que segurou os braços do Eleotero para trás, pro Zeus poder dar uns murros na barriga dele.

Mas acontece que, durante a noite, o Eleotero tinha bebido quase um litro de vodca, meia garrafa de uísque - sem gelo, puro malte -, além de nove shotzinhos de tequila, e foi obrigado a vomitar pra todo lado. No entanto, não se sujou, porque estava usando o seu avental divino. Já o Zeus e o Apolo, bem, eles se deram muito mal.

Aí o Zeus, como punição – porque ele era cheio de fazer essas maldades com as pessoas que cometiam erros – arrancou o nariz do Eleotero e pregou no lugar uma cauda de peixe, para que, eternamente os deuses gostam muito dessa palavra -, ele sentisse o cheiro cru do animal e se lembrasse do quão temerário tinha sido quanto às suas obrigações laborais.

Nesse momento o Eleotero percebeu que não adiantava recorrer da decisão e disse apenas aquela frase complexa e bem elaborada que muitos utilizam quando perdem algo importante por agir de forma displicente:

“- Ah, eu nem queria mesmo...”

Deu de ombros e foi embora.

Fim.

***

Nota do Ficcionista: O Eleotero jamais foi visto novamente e os outros deuses riscaram o nome dele de todos os anais e alfarrábios referentes ao panteão grego. E é por isso que nunca o vemos incluído em nenhuma lista desse tipo. Mais tarde, alguns estudiosos do assunto atribuíram também ao deus Eleotero a divindade dos navios naufragados, da demissão por justa causa, dos peixes bluegill, e da rinoplastia. Há também uma corrente – minoritária, registre-se – que afirma que ele é também o deus da sardinha em lata (mas apenas daquele tipo que já vem temperado com limão). Outros relatos, colhidos ao longo de eras, apontam para o fato de que, após ser expulso do Olimpo, o Eleotero atravessou o Mar Egeu e o Mar Mediterrâneo em uma modesta jangadinha e acabou se tornando um respeitável sushiman em uma província do litoral israelense. Mas esse assunto é controverso ainda hoje, alguns anos depois.

E se você leu esse texto até o fim: mil desculpas.

“Até mais, e obrigado pelos peixes!”

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Dor Elegante

Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Como se chegando atrasado
Chegasse mais adiante

Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa um milhão de dólares
Ou coisa que os valha

Ópios édens analgésicos
Não me toquem nessa dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra


(Paulo Leminski)

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Caderno da lua - 09

Sem pena
"Quando eu for eu vou sem pena, pena vai ter quem ficar."
(Paulo Vanzolini)
***
"Adestrai-vos e conquistai força física e moral."
(Olavo Bilac)